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Crítica - Pagliacci, do grupo La Mínima

Vesti La Giubba

Se a vida não é uma ópera e sim um circo, Pagliacci, peça de comemoração dos vinte anos da Companhia La Minima, retrata o lado mais fascinante da vida. Alegoria perfeita para as relações humanas, a tênue linha entre a comédia e a tragédia ganha vida no palco do Teatro Sesi-SP com personagens simples, que se revelam intensos.

O enredo da companhia fundada por Domingos Montagner não cita seu nome em momento nenhum, mas o homenageia (Montagner faleceu por afogamento no Rio São Francisco durante as gravações da novela "Velho Chico" no ano passado). No melhor da “commedia dell’arte” - estilo de teatro popular tradicionalmente encenado em ruas e praças -, o ator ficaria orgulhoso do que ajudou a criar.  

“I Pagliacci”, de Ruggero Leoncavallo, é uma tradicional ópera italiana, com os clássicos personagens Colombina, Arlequim e Pierrô. Pagliacci é sua livre adaptação, com texto de Luis Alberto de Abreu e concepção de Montagner e Fernando Sampaio.

As referências à ópera se mostram desde o nome até a cena em que Canio (Alexandre Riot) faz em seu rosto a clássica maquiagem de palhaço, assim como acontece durante “Vesti La Giubba”, a mais famosa música do espetáculo original. Mas não é preciso entender essa intertextualidade, ou sequer conhecer "I Pagliacci" para se emocionar.

Temas como amor, ciúme e traição são abordados em ambos os espetáculos, mas é nos detalhes que está a beleza. E, ao invés da ópera, temos o circo. 

A união entre teatro e circo na peça é natural, equilibrada. Ocorre um sentimental prólogo de Peppe (Fernando Paz), mas acontecem no palco, logo após, os mais singelos truques de circo, como andar em uma minibicicleta. Há ainda uma passagem em que duas das personagens trocam malabares em complexos movimentos, enquanto proferem um diálogo longe de simples.

Os olhos do público brilham, mas nada como uma história de amor para arrancar suspiros. É exatamente isso que vive Nedda (Keila Bueno) e Silvio (Fernando Sampaio): a delicadeza de seu amor que começa quase com traços infantis se transforma em um sentimento impetuoso.

É difícil citar um ator que tenha se destacado mais ou menos, uma vez que todos se mostram geniais em seus papéis, seja nas coreografias ou no efeito de câmera lenta que reproduzem com seus corpos.

A personagem de Carla Candiotto, Stompa, em especial, merece seus momentos sob o refletor. Seu forte nome demonstra um pouco de quem é, mas esconde a mulher apaixonada e amiga sincera que se revela. Ainda assim, traz consigo muito do humor responsável pela leveza da peça, inclusive até mais do que as cenas românticas.

Papel parecido tem os números musicais, encaixados no roteiro como parte fundamental do todo, inclusive dos números circenses. Não espere encontrar atores simplesmente cantando no meio do palco, mas sim músicas singulares, tocadas em garrafas de vidro ou até mesmo em um serrote.

A peça traz uma nova perspectiva ao teatro, arte mais pungente do que nunca, ainda mais em um mundo que carece de realidade, em tempos onde ligar a televisão parece ser suficiente. Da mesma forma, encanta com o saudoso circo, tão subestimado no geral, mas que traduz tão bem os sentimentos humanos.

Pagliatti é uma peça de palhaços, no sentido mais artístico possível.

​​​​​​​Serviço:
Pagliacci, direção de Chico Pelúcio
Cia. La Minima
Em cartaz no teatro do Sesi-SP, no Centro Cultural Fiesp (Avenida Paulista, 1313)
De 30 de março a 2 de junho de 2017
Quinta a sábado às 20h e domingo às 19h
Classificação indicativa: 14 anos
Crítica - Pagliacci, do grupo La Mínima
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